[AUTORAL] – O que é a Psicologia Evolutiva?

Se eu pudesse resumir o que é Psicologia Evolutiva em um parágrafo,  a resumiria assim: ela é simplesmente uma psicologia que é informada pelo conhecimento adicional da biologia evolutiva. Com isso, os psicólogos evolutivos esperam entender a estrutura da mente humana através dos seus criadores, que são os processos evolutivos.

Os psicólogos evolutivos Leda Cosmides e John Tooby argumentam que, se quisermos entender como a cultura modela o comportamento humano, precisamos, antes, entender a arquitetura psicológica que se desenvolveu a partir dos processos evolutivos. É uma tarefa de extrema dificuldade entender o produto (cultura) sem entender melhor o seu produtor (que é a nossa psicologia evoluída). Isso pode ser visto diante das divergentes posições que diferentes intelectuais das ciências sociais tomam como verdadeiras. Um exemplo clássico é a divergência entre os que acreditam em uma possível verdade expressa no corpo teórico de Max Weber e os que acreditam no corpo teórico de Karl Marx.

Porém, vale ressaltar que a própria cultura tem o poder de modelar as estruturas do nosso cérebro e, consequentemente, as nossas experiências de consciência. Isso foi muito bem exposto pelo antropólogo e psicólogo Joseph Henrich, na obra The WEIRDest people in the world.

O empreendimento da psicologia evolutiva nasceu de uma tentativa de integralização conceitual, que visa conectar os diferentes campos da ciências humanas a partir do manto da teoria da evolução, usando como pano de fundo a psicologia humana. Isso porque não haveria uma maneira melhor de entender os comportamentos humanos do que a partir daquilo que o produz, que é a mente. Cosmides e Tooby denominaram essa integralização conceitual como Modelo de Causação Integrada (MCI). Esse modelo conecta as ciências humanas com o resto das ciências reconhecendo que:

“(1) A mente humana consiste em um conjunto de mecanismos evoluídos de processamento de informações instanciado no sistema nervoso humano.

(2) Esses mecanismos, tal como os programas desenvolvimentais que os produziram, são adaptações produzidas pela seleção natural durante o tempo em que os nossos ancestrais eram caçadores-coletores.

(3) Muitos desses mecanismos são funcionalmente especializados para produzir problemas adaptativos particulares, como a seleção de parceiros sexuais, a aquisição de linguagem, as relações familiares e o problema da cooperação.

(4) Para ser funcionalmente especializados, muitos desses mecanismos precisam ser ricamente estruturados de um modo específico.

(5) O processamento de informações de conteúdo específico gera conteúdos particulares na cultura humana, incluindo certos comportamentos, artefatos e representações linguisticamente transmitidas.

(6) O conteúdo cultural gerado por esses ou outros mecanismos estão então presentes para serem adotados ou modificados por mecanismos psicológicos situados em outros membros da população.

(7) Isso configura os processos históricos a nível populacional e epismemológico.

(8) E esses processos são localizados em contextos e ambientes intergrupais, ecológicos, econômicos e demográficos.”

Referências bibliográficas:

Barkow, J; Cosmides; L; Tooby, J. The Adapted Mind. New York: Oxford University Press, 1992.

Henrich, Joseph. The WEIRDest people in the world. New York: Farrar, Straus and Giroux, 2020.

Texto escrito por: Silva, I.
Lattes do autor: https://lattes.cnpq.br/4005176584329851