Bate-papo online sobre a tradução do artigo “A evolução e a ética vistas a partir de duas metáforas: máquina e organismo”, do Filósofo da Biologia Michael Ruse | 30 de novembro de 2022, 18hs

Bate-papo online sobre a tradução do artigo

“A evolução e a ética vistas a partir de duas metáforas: máquina e organismo”

Boletim de História e Filosofia da Biologia, 16 (3), set. 2022. https://www.abfhib.org

do Filósofo da Biologia Michael Ruse

30 de novembro de 2022, 18hs

Tradução de:
Iago Pereira
Maíra Bittencourt
Maria Irene Baggio
Matheus Coelho
Walter Valdevino

Grupo de Pesquisa Moralidade, Evolução e Política (PPGFil-UFRRJ, CNPq-UFRRJ)

Grupo de Estudos de Ética Integrada

A partir da publicação, em 1859, da obra divisora de águas A origem das espécies, de Charles Darwin, tem ocorrido frequentemente esforços de muitos intelectuais ao redor do mundo em estudar o fenômeno do comportamento moral a partir da integralização de diversos tipos de conhecimento. O muro que divide exagerada e erroneamente o que é “cultural” do que é “biológico” tem sido acertadamente atacado. Hoje, é possível destacar algumas figuras carimbadas que têm feito isso, tais como Jonathan Haidt, Joshua Greene, Frans de Wall, Richard Dawkins, Steven Pinker, Michael Ruse, Leda Cosmides, António Damásio, Robert Sapolsky etc.

O grupo de estudos vai na mesma empreitada desses esforços. Discutiremos o comportamento moral partindo de discussões mais basilares da genética do comportamento e indo até a ponta do iceberg, que são as filosofias morais. Tendo em vista isso, serão objetos de discussão do grupo temas de genética, primatologia, psicologia, neurociência, antropologia, sociologia e filosofia. É claro, todas as leituras sempre passando pelo fato da evolução, ou seja, usando a biologia evolutiva como pano de fundo.

Serão bem-vindos todos os tipos de pessoas e pesquisadores que se interessam pelo fenômeno do comportamento moral. O grupo de Estudos de Ética integrada visará construir uma ponte entre as pessoas do Brasil que compartilham do interesse em entender o comportamento moral a partir de um quadro mais abrangente, não perdendo de vista os potenciais pormenores que cada área pode prover.

Caso queira participar, por favor, preencha o formulário a seguir:

https://docs.google.com/forms/d/1XzUs_oWUB4Wyr_Rp4hKlwlbu48d0gaVzJHAOGehuOs0/edit

[AUTORAL] – Hipótese do marcador somático

Qual é a relação, se há alguma, entre as nossas emoções e o nosso comportamento moral? É isso que entenderemos melhor neste post.

António Damásio é um médico e neurologista que se interessa sobre a relação entre danos em determinadas áreas cerebrais e o comportamento humano. Ou seja, como esses danos estão correlacionados a um comportamento ou à falta de um comportamento.

Em seu livro O erro de Descartes, o neurologista expõe o caso clássico de Phineas Gage (ocorreu em 1848). Gage teve o seu córtex pré-frontal ventromedial (que é a área do cérebro de vocês que fica atrás da testa) perfurado por uma viga de metal, no momento em que ele trabalhava na construção de uma ferrovia. Incrivelmente, Gage sobreviveu.

O que é ainda mais incrível é que o seu comportamento moral foi, para sempre, alterado. Gage não era mais Gage. Um homem outrora cortês, tornou-se rude, falava coisas abjetas, era incapaz de cumprir eficazmente os seus deveres e chegar no horário combinado em seus empregos.

Agora que entra a parte mais interessante do post, então coloque novamente os seus recursos atencionais aqui. Acontece que, se um cérebro sofrer um considerável dano em seu córtex pré-frontal ventromedial, a capacidade emocional do indivíduo estará comprometida. Foi exatamente isso que aconteceu com Gage, e é o que acontece com pessoas que sofrem danos ou nascem com a parte ventromedial do córtex pré-frontal comprometida.

Levando isso em consideração, a emoção tem, portanto, um papel importantíssimo no processo de decisão social. Caso contrário, o comportamento social de Gage e dos pacientes que Damásio expõe em seu livro manteria-se inalterado. Apesar de conseguirem utilizar normalmente aquilo que consagrou-se como “razão”, ela, sozinha, não conseguiu regular o comportamento social desses indivíduos.

A hipótese do marcador somático, em resumo, é a de que as nossas emoções integram o nosso raciocínio, em vez de apenas o atrapalhar, como  supõe-se (“não deixe que as suas emoções o atrapalhe”).

Por fim, pode-se dizer que há uma forte ligação entre a razão e as nossas emoções, de modo que, caso um desses dois polos deixasse de funcionar apropriadamente, aconteceria o mesmo com o comportamento social do indivíduo.

REFERÊNCIAS

Damásio, António. O erro de Descartes. 3ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Texto escrito por: Silva, I.
Lattes do autor: https://lattes.cnpq.br/4005176584329851

[AUTORAL] – As raízes biológicas da moralidade, segundo Francisco Ayala

Muitos se perguntam sobre qual é a origem da moralidade. Esse é um tema que intriga, ainda hoje, 99% da humanidade. Muitos também caem, infelizmente, na péssima dicotomia de querer achar que ou algo é estritamente cultural, ou é estritamente biológico. Nesse tipo de inferência, não há espaço para complexidade, e se não há espaço para a complexidade, toda a magnitude do fenômeno é perdida.

Ayala, sendo biólogo e filósofo, sabe muito bem como é difícil, e ao mesmo tempo excitante, explicar um fenômeno de tamanha variedade cultural, mas que, ainda assim, tem o importantíssimo componente da nossa biologia.

Segundo Ayala, a moralidade teria como base a nossa biologia, pois ela depende das nossas habilidades intelectuais de julgar a consequência de uma ação como boa ou ruim. E isso é algo que requer, por sua vez, a capacidade de prevermos o resultado das nossas ações. Ou seja, a partir dessa ótica, se não tivéssemos obtido, como resultado dos processo evolutivos, o nosso avantajado córtex pré-frontal, seria impossível raciocinar moralmente. Isso é do algo do qual, pessoalmente, discordo, mas que não colocarei em debate aqui.

Entretanto, as normas morais seriam produto direto da evolução cultural, não da nossa biologia. Ayala frisa que as normas morais frequentemente acompanham as nossas predisposições biológicas (que são as predisposições que visam maximizar a nossa medida de sucesso reprodutivo). Ayala ainda argumenta que a aceitação e existência das normas morais são facilitadas quando elas estão em conformidade com essas predisposições.

Além disso, o filósofo infere que, se um conjunto de normas morais for completamente contrário à nossa biologia, a existência dessas normas estará comprometida, visto que elas diminuirão a aptidão total do grupo e, portanto, comprometerão a própria existência dele.

Em conclusão, para Ayala, portanto, a moralidade é tanto fruto da cultura quanto é da nossa biologia. Mas a nossa natureza biológica não determina (apesar de delimitar indiretamente) qual norma moral deveríamos seguir, o que parece dar um maior grau de atuação à cultura.

Referência

Ayala, Francisco. The biological roots of morality. Biol Philos 2, 235–252 (1987). 2

Texto escrito por: Silva, I.
Lattes do autor: https://lattes.cnpq.br/4005176584329851