[AUTORAL] – As raízes biológicas da moralidade, segundo Francisco Ayala

Muitos se perguntam sobre qual é a origem da moralidade. Esse é um tema que intriga, ainda hoje, 99% da humanidade. Muitos também caem, infelizmente, na péssima dicotomia de querer achar que ou algo é estritamente cultural, ou é estritamente biológico. Nesse tipo de inferência, não há espaço para complexidade, e se não há espaço para a complexidade, toda a magnitude do fenômeno é perdida.

Ayala, sendo biólogo e filósofo, sabe muito bem como é difícil, e ao mesmo tempo excitante, explicar um fenômeno de tamanha variedade cultural, mas que, ainda assim, tem o importantíssimo componente da nossa biologia.

Segundo Ayala, a moralidade teria como base a nossa biologia, pois ela depende das nossas habilidades intelectuais de julgar a consequência de uma ação como boa ou ruim. E isso é algo que requer, por sua vez, a capacidade de prevermos o resultado das nossas ações. Ou seja, a partir dessa ótica, se não tivéssemos obtido, como resultado dos processo evolutivos, o nosso avantajado córtex pré-frontal, seria impossível raciocinar moralmente. Isso é do algo do qual, pessoalmente, discordo, mas que não colocarei em debate aqui.

Entretanto, as normas morais seriam produto direto da evolução cultural, não da nossa biologia. Ayala frisa que as normas morais frequentemente acompanham as nossas predisposições biológicas (que são as predisposições que visam maximizar a nossa medida de sucesso reprodutivo). Ayala ainda argumenta que a aceitação e existência das normas morais são facilitadas quando elas estão em conformidade com essas predisposições.

Além disso, o filósofo infere que, se um conjunto de normas morais for completamente contrário à nossa biologia, a existência dessas normas estará comprometida, visto que elas diminuirão a aptidão total do grupo e, portanto, comprometerão a própria existência dele.

Em conclusão, para Ayala, portanto, a moralidade é tanto fruto da cultura quanto é da nossa biologia. Mas a nossa natureza biológica não determina (apesar de delimitar indiretamente) qual norma moral deveríamos seguir, o que parece dar um maior grau de atuação à cultura.

Referência

Ayala, Francisco. The biological roots of morality. Biol Philos 2, 235–252 (1987). 2

Texto escrito por: Silva, I.
Lattes do autor: https://lattes.cnpq.br/4005176584329851