“Como a ‘mente ocidental’ foi moldada pela Igreja Católica medieval
Joseph Henrich*
* Joseph Henrich é professor de Biologia Evolutiva Humana na Universidade de Harvard e autor de The WEIRDest People in the World: How the West Became Psychologically Peculiar and Particularly Prosperous (“As pessoas mais ‘Weird’ do Mundo: Como o Ocidente se Tornou Psicologicamente Pecial e Particularmente Próspera”, em tradução livre).
BBC Future
https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-55566154
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Em primeiro lugar, apesar de entrar nos livros didáticos como as “pessoas” pensam, quase todos os estudos que examinaram esse efeito foram conduzidos entre estudantes americanos. No entanto, os comentaristas sociais, voltando pelo menos a Alexis De Tocqueville, notaram que os americanos são particularmente individualistas e independentes.
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Isso destaca o fato de que chamar alguém de “conformista” é um elogio em muitos lugares, mas não nos Estados Unidos.
Conformidade, entretanto, não é um caso idiossincrático de diferença cultural, mas representa a ponta de um iceberg psicológico.
O banco de dados que domina nossa compreensão da psicologia humana deriva principalmente — 95% dela, na verdade — de populações que são “Ocidentais, Educadas, Industrializadas, Ricas e Democráticas (esse grupo de pessoas é conhecido pela sigla em inglês “Weird”, que significa “esquisito” em português).
Ao contrário de grande parte do mundo hoje — e da maioria das pessoas que já viveram —, essa categoria de pessoas é altamente individualista, obcecada por si mesma, cheia de culpa e analítica em seu estilo de pensamento.
Os chamados “Weird” se concentram em si mesmos — seus atributos, realizações e aspirações. Ao raciocinar, as pessoas tendem a procurar categorias abstratas com as quais organizar o mundo, simplificam fenômenos complexos quebrando-os em elementos discretos e atribuindo propriedades — seja imaginando tipos de partículas, patógenos ou personalidades.
Apesar de sua aparente auto-obsessão, elas tendem a seguir regras imparciais e podem ser bastante confiáveis, justas e cooperativas com estranhos.
Emocionalmente, as pessoas da categoria “Weird” são relativamente desavergonhadas, menos constrangidas quando se deparam com outros, mas frequentemente atormentadas pela culpa por não cumprirem seus próprios padrões autoimpostos.
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Até recentemente, a maioria das sociedades foi sustentada por instituições baseadas intensivamente em parentescos, construídas em torno de grandes famílias estendidas: clãs, casamento de primos, poligamia e muitas outras normas de parentesco que regulam e restringem a vida social. Essas instituições persistem em muitas partes do mundo hoje, especialmente nas áreas rurais.
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Começando no final da Antiguidade, o ramo do cristianismo que evoluiu para a Igreja Católica Romana começou a promulgar gradualmente um conjunto de proibições e prescrições relacionadas ao casamento e à família. A Igreja, por exemplo, proibiu o casamento entre primos, casamento arranjado e casamento polígamo.
Ao contrário de outras denominações cristãs, a Igreja Católica expandiu lentamente o círculo de relacionamentos “incestuosos” para primos no século 11.
Apesar de frequentemente enfrentar forte resistência, esse empreendimento dissolveu lentamente as complexas instituições baseadas em parentesco da Europa tribal, deixando famílias nucleares independentes como um ideal cultural e um padrão comum.
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A maioria de nós pode achar que somos pensadores racionais e independentes. Mas a forma como pensamos, sentimos e raciocinamos — incluindo nossas inclinações para a conformidade e preferências por explicações analíticas — foi moldada por eventos históricos, heranças culturais e tabus de incesto que remontam a séculos ou mesmo milênios.
Compreender como a história moldou nossas mentes faz parte de explorar e abraçar nossa diversidade.”