“Estudo mostra que pessoas com viés político são mais suscetíveis a fake news” [O Globo]

“Estudo mostra que pessoas com viés político são mais suscetíveis a fake news

05/07/2020 • 07:00

https://blogs.oglobo.globo.com/sonar-a-escuta-das-redes/post/estudo-mostra-que-pessoas-com-vies-politico-sao-mais-suscetiveis-fake-news.html

Suzana Correa

Um estudo brasileiro inédito que será publicado no Journal of American Politics, a partir de experimento realizado nas eleições presidenciais de 2018, pode acabar com o mito de que quem acredita em fake news é a “tia do zap”. Os pesquisadores mostram que quem mais confia em boato falso são os que já têm time definido no jogo político. E o desejo de eleitores de concluir aquilo que é sugerido por suas filiações partidárias reduz a eficácia da checagem de informações.

— Escolaridade, nível intelectual, sexo e idade não têm relação com o quanto se acredita em fake news. Mais que mexer com eleitor médio, elas reforçam crenças de quem já tem posição política e intensificam preconceitos, opiniões e valores — diz Felipe Nunes, um dos autores da pesquisa, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretor da consultoria Quaest.

O experimento indica que expor os eleitores a esclarecimentos da própria vítima do falso rumor não funciona. Apresentar a checagem de veículo de grande porte é mais eficaz. O estudo, chamado “Raciocínio motivado sem partidarismo? Fake news nas eleições brasileiras de 2018”, mostrou petistas e anti-petistas como os mais suscetíveis a acreditarem em fake news sobre o PT, negativas ou positivas.

A boa notícia é que apenas cerca de 30% dos entrevistados no experimento brasileiro acreditavam nas fake news. A proporção é menor do que os 43% observados em estudos nos Estados Unidos e outros países. Os pesquisadores acreditam que a identificação partidária no Brasil, considerada fraca e instável, pode contribuir para limitar a disseminação de fake news no país.

— Esse é o principal efeito que produzem numa eleição. É também um mecanismo de reforço da coesão e de mobilização daquele próprio grupo — diz Nunes.

O estudo confirma os impactos do já conhecido “viés de confirmação”, segundo o qual interpretamos ou pesquisamos informações para confirmar crenças e hipóteses que já temos. O fenômeno é investigado pela psicologia social e ciência política desde 1970, mas voltou à moda com o surgimento das redes sociais e fake news.

É este viés que forma nas redes o que os estudiosos chamam de “bolhas” ou “câmaras de eco” partidárias: ao seguir e curtir apenas conteúdo que confirma suas preferências políticas ou morais, o usuário de redes sociais como Facebook ou Twitter “treina”, involuntariamente, os algoritmos da rede a mostrarem cada vez mais informações que corroboram suas crenças.

Nestes ambientes, as fake news são mais aceitas como verdade e compartilhadas, porque confirmam a visão positiva sobre o partido do usuário — ou negativa sobre aquele que odeia — e que se torna predominante ali.

— O experimento mostra que o senso comum de que os menos escolarizados seriam os mais propensos a serem afetados por fake news é mentira. O que realmente afeta é a posição política da pessoa e isso só acontece porque hoje quase ninguém usa informação para atualizar o que sabe, mas para confirmar o que já acredita — conclui Nunes.”

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